Portugal é historicamente um país deficitário ao nível da sua balança comercial. Tal facto prende-se não só com a sua dependência em termos de recursos naturais do exterior, mas também sobretudo com um tema sobre o qual muito pouco se houve falar: a falta de capacidade de gerar valor à sua produção.
Gráfico 1 – Evolução da balança comercial de bens e serviços.
Fonte: PorDATA
Valores a preços constantes com base em 2006
No Gráfico 1, podemos observar que a evolução das exportações, é acompanhada de forma quase linear pelas importações. Mantendo um saldo muito idêntico ao longo dos últimos anos, mesmo com o aumento da capacidade de exportação a aumentar, o saldo mantém-se na mesma, ou seja: estamos a exportar mal.
Da análise deste gráfico, podemos concluir que o valor das importações não se reflecte num aumento do valor a cada unidade de exportação. Basicamente o que estamos a fazer é montagem de produtos, ou seja, não nos estamos a distinguir da concorrência, uma fábrica de assemblagem pode ser localizada em qualquer parte do mundo.
Em termos globais, esta consequência reflecte a tendência global da verticalização da produção de bens e serviços. Com a liberalização do comércio mundial, cada vez mais as empresas passam a integrar nos seus produtos, componentes (bens e/ou serviços) adquiridos noutros países. Desta forma as transacções comerciais tendem a aumentar, mas não o PIB (ver Gráfico 2 – Comércio e PIB mundiais).
Fonte: Boletim económico do Banco de Portugal, Verão de 2008
O problema da nossa balança comercial é complexo. Como qualquer problema complexo, não tem uma resposta, nem uma solução simples, clara ou objectiva.
Não existe uma solução de varinha mágica, que de uma única forma possa resolver o nosso problema de crescimento. A “magia”, se assim lhe pudermos chamar, está não em dizer: o caminho é este, mas antes: os caminhos são vários, temos que os utilizar em conjunto. Fazer com que a marca “Portugal” seja distintiva pelo fazer bem, seja em que sector for.
A solução passa assim por um conjunto misto de opções, que devem criar entre si sinergias, de forma poder tomar partido das nossas condições e características naturais, enquanto país, e enquanto povo.
Há uma característica que temos enquanto povo, e que é em simultâneo, difícil de imitar, difícil de encontrar, difícil de substituir, e é bastante valiosa: somos bons, na arte de fazer bem. Nós somos bons a pensar, e temos uma grande imaginação para resolver problemas o que por si constituí uma vantagem competitiva.
Os sectores
Em termos sectoriais, devemos continuar a diversificar a carteira de opções, continuando a aposta em sectores que incorporem mais tecnologia, e possam gerar mais valor acrescentado.
Esta tem sido aliás uma tendência seguida ao longo da última década e meia, e é mais um factor pode contribuir para melhorar as nossas trocas comerciais ver Gráfico 3.
Gráfico 3 – Alteração sectorial das nossas exportações em termos tecnológicos
Fonte: Jornal de negócios, quarta-feira, 20 de Fevereiro de 2008 pág. 26
Alguns exemplos de indústrias nas quais deveríamos apostar: Software de aplicações empresariais, Software para soluções avançadas (defesa, aeronáutica e espaço); Serviços de consultoria e informática; Telecomunicações e informática; Electrónica profissional; Mecânica de precisão/plásticos técnicos (que corresponde ao desenvolvimento de competências na indústria dos moldes com aplicação de tecnologias avançadas de concepção e fabrico - o automóvel e a aeronáutica); Aeronáutica; Energias renováveis; Saúde e Indústrias Farmacêuticas.
Existe neste momento em minha opinião uma janela de oportunidade num sector, que o anterior governo alavancou, e que deveríamos continuar a impulsionar. Esse sector é o da mobilidade eléctrica.
Com os valores do petróleo cada vez mais elevados em termos mundiais, este é um sector que vai conhecer uma grande expansão nos próximos anos.
Desde baterias, motores, veículos completos e seus componentes, temos uma oportunidade única a meu ver, de poder conjugar um sector de tecnologia de ponta, com alguns dos sectores industriais tradicionais Portugueses, e que já têm experiência na indústria automóvel: plásticos, vidro, tintas, couro entre outros.
Mais, nos próximos anos, provavelmente não haverá outro sector que venha a ter a expressão deste, que está ainda no inicio, mas que dentro de 10 a 15 anos, será sem dúvida relevante para a economia mundial.
Resta apenas deixar uma última nota para o sector dos serviços em geral. Os serviços permitem uma defesa de alguns choques económicos que surgem pontualmente da economia. Assim, a aposta nestes sectores, deve ser encarada como estratégica para o país, tanto ou mais que a aposta nos bens.
Mas a grande questão é: O que devemos produzir e exportar?
Historicamente, Portugal é visto como um país de mão-de-obra intensiva e barata. Esta questão levanta-nos dois problemas: em primeiro já não somos um país de mão-de-obra barata, mas cada vez mais especializada. Em segundo, nesse contexto, obriga a indústria de escala, e Portugal não tem escala.
Portugal não tem escala. Somos um país pequeno, e com fraco mercado interno, logo exportar é imperativo, senão só compramos o que produzimos, e nós não produzimos tudo o que gostamos de comprar.
Em minha opinião, os produtos/serviços que produzimos, devem destinar-se a mercados que procuram boa qualidade, e diferenciação.
Ou seja, para qualquer produto que Portugal queira exportar, há duas características que esse produto/serviço tem que ter: ser inovador sobre um ou vários aspectos (design, funcionalidade, materiais utilizados ou outros), e ter a melhor qualidade que é possível incorporar nesse produto/serviço.
Além dos novos sectores em que devemos apostar e que têm o seu mercado destino por definição, há que olhar para a indústria tradicional portuguesa com uma perspectiva diferente. Temos que aproveitar aquilo que temos de bom e seja nosso, arranjar uma forma de lhe acrescentar valor percebido pelos mercados externos, e depois exportar.
Redefinir o conceito de produto ou mesmo no negócio.
Inovar não é fácil, mas a imaginação não custa dinheiro. O conhecimento do mercado e da concorrência, é aquilo que faz a diferença entre estar ou não estar no mercado ao fim de alguns anos.
Apresento em seguida uma matriz de criação de valor para produtos/serviços, que pode ser utilizada na criação de valor do produto para o cliente.
Imagem 1 – Modelo das quatro acções
Fonte: Estratégia do oceano azul pág.29
Em resumo
A mudança na mentalidade empresarial, que levará a que a inovação seja impulsionada pelos mercados para as empresas e destas para as universidades, ou, destas através de um processo próprio de reinvenção interna, vai levar anos. E é por isso que é necessário ter em mente três coisas: a primeira é que não vamos estar a crescer em 2013, como diz o nosso ministro, a segunda, é que temos que começar hoje, a terceira, é que se queremos exportar, temos que estar preparados, porque não é uma tarefa simples, dá trabalho e exige preparação.