quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O valor acrescentado na nossa economia

Portugal é historicamente um país deficitário ao nível da sua balança comercial. Tal facto prende-se não só com a sua dependência em termos de recursos naturais do exterior, mas também sobretudo com um tema sobre o qual muito pouco se houve falar: a falta de capacidade de gerar valor à sua produção.


Gráfico 1 – Evolução da balança comercial de bens e serviços.
Fonte: PorDATA
Valores a preços constantes com base em 2006




No Gráfico 1, podemos observar que a evolução das exportações, é acompanhada de forma quase linear pelas importações. Mantendo um saldo muito idêntico ao longo dos últimos anos, mesmo com o aumento da capacidade de exportação a aumentar, o saldo mantém-se na mesma, ou seja: estamos a exportar mal.

Da análise deste gráfico, podemos concluir que o valor das importações não se reflecte num aumento do valor a cada unidade de exportação. Basicamente o que estamos a fazer é montagem de produtos, ou seja, não nos estamos a distinguir da concorrência, uma fábrica de assemblagem pode ser localizada em qualquer parte do mundo.
Em termos globais, esta consequência reflecte a tendência global da verticalização da produção de bens e serviços. Com a liberalização do comércio mundial, cada vez mais as empresas passam a integrar nos seus produtos, componentes (bens e/ou serviços) adquiridos noutros países. Desta forma as transacções comerciais tendem a aumentar, mas não o PIB (ver Gráfico 2 – Comércio e PIB mundiais).


Gráfico 2 – Comércio e PIB mundiais
Fonte: Boletim económico do Banco de Portugal, Verão de 2008

O problema da nossa balança comercial é complexo. Como qualquer problema complexo, não tem uma resposta, nem uma solução simples, clara ou objectiva. 

Não existe uma solução de varinha mágica, que de uma única forma possa resolver o nosso problema de crescimento. A “magia”, se assim lhe pudermos chamar, está não em dizer: o caminho é este, mas antes: os caminhos são vários, temos que os utilizar em conjunto. Fazer com que a marca “Portugal” seja distintiva pelo fazer bem, seja em que sector for.
A solução passa assim por um conjunto misto de opções, que devem criar entre si sinergias, de forma poder tomar partido das nossas condições e características naturais, enquanto país, e enquanto povo.
Há uma característica que temos enquanto povo, e que é em simultâneo, difícil de imitar, difícil de encontrar, difícil de substituir, e é bastante valiosa: somos bons, na arte de fazer bem. Nós somos bons a pensar, e temos uma grande imaginação para resolver problemas o que por si constituí uma vantagem competitiva.
  
Os sectores
Em termos sectoriais, devemos continuar a diversificar a carteira de opções, continuando a aposta em sectores que incorporem mais tecnologia, e possam gerar mais valor acrescentado.
Esta tem sido aliás uma tendência seguida ao longo da última década e meia, e é mais um factor pode contribuir para melhorar as nossas trocas comerciais ver Gráfico 3.

Gráfico 3 – Alteração sectorial das nossas exportações em termos tecnológicos
Fonte: Jornal de negócios, quarta-feira, 20 de Fevereiro de 2008 pág. 26






Alguns exemplos de indústrias nas quais deveríamos apostar: Software de aplicações empresariais, Software para soluções avançadas (defesa, aeronáutica e espaço); Serviços de consultoria e informática; Telecomunicações e informática; Electrónica profissional; Mecânica de precisão/plásticos técnicos (que corresponde ao desenvolvimento de competências na indústria dos moldes com aplicação de tecnologias avançadas de concepção e fabrico - o automóvel e a aeronáutica); Aeronáutica; Energias renováveis; Saúde e Indústrias Farmacêuticas.

Existe neste momento em minha opinião uma janela de oportunidade num sector, que o anterior governo alavancou, e que deveríamos continuar a impulsionar. Esse sector é o da mobilidade eléctrica.
Com os valores do petróleo cada vez mais elevados em termos mundiais, este é um sector que vai conhecer uma grande expansão nos próximos anos.
Desde baterias, motores, veículos completos e seus componentes, temos uma oportunidade única a meu ver, de poder conjugar um sector de tecnologia de ponta, com alguns dos sectores industriais tradicionais Portugueses, e que já têm experiência na indústria automóvel: plásticos, vidro, tintas, couro entre outros.
Mais, nos próximos anos, provavelmente não haverá outro sector que venha a ter a expressão deste, que está ainda no inicio, mas que dentro de 10 a 15 anos, será sem dúvida relevante para a economia mundial.

Resta apenas deixar uma última nota para o sector dos serviços em geral. Os serviços permitem uma defesa de alguns choques económicos que surgem pontualmente da economia. Assim, a aposta nestes sectores, deve ser encarada como estratégica para o país, tanto ou mais que a aposta nos bens.

Mas a grande questão é: O que devemos produzir e exportar?
Historicamente, Portugal é visto como um país de mão-de-obra intensiva e barata. Esta questão levanta-nos dois problemas: em primeiro já não somos um país de mão-de-obra barata, mas cada vez mais especializada. Em segundo, nesse contexto, obriga a indústria de escala, e Portugal não tem escala.
Portugal não tem escala. Somos um país pequeno, e com fraco mercado interno, logo exportar é imperativo, senão só compramos o que produzimos, e nós não produzimos tudo o que gostamos de comprar.

Em minha opinião, os produtos/serviços que produzimos, devem destinar-se a mercados que procuram boa qualidade, e diferenciação.
Ou seja, para qualquer produto que Portugal queira exportar, há duas características que esse produto/serviço tem que ter: ser inovador sobre um ou vários aspectos (design, funcionalidade, materiais utilizados ou outros), e ter a melhor qualidade que é possível incorporar nesse produto/serviço.

Além dos novos sectores em que devemos apostar e que têm o seu mercado destino por definição, há que olhar para a indústria tradicional portuguesa com uma perspectiva diferente. Temos que aproveitar aquilo que temos de bom e seja nosso, arranjar uma forma de lhe acrescentar valor percebido pelos mercados externos, e depois exportar.

Redefinir o conceito de produto ou mesmo no negócio.
Inovar não é fácil, mas a imaginação não custa dinheiro. O conhecimento do mercado e da concorrência, é aquilo que faz a diferença entre estar ou não estar no mercado ao fim de alguns anos.
Apresento em seguida uma matriz de criação de valor para produtos/serviços, que pode ser utilizada na criação de valor do produto para o cliente.

Imagem 1 – Modelo das quatro acções
Fonte: Estratégia do oceano azul pág.29













Em resumo
A mudança na mentalidade empresarial, que levará a que a inovação seja impulsionada pelos mercados para as empresas e destas para as universidades, ou, destas através de um processo próprio de reinvenção interna, vai levar anos. E é por isso que é necessário ter em mente três coisas: a primeira é que não vamos estar a crescer em 2013, como diz o nosso ministro, a segunda, é que temos que começar hoje, a terceira, é que se queremos exportar, temos que estar preparados, porque não é uma tarefa simples, dá trabalho e exige preparação.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Banqueiro tipo Lorpa

Lorpa é um termo carinhoso, simpático, jovial e até mesmo honesto para descrever a forma de actuação da nossa banca no que toca ao financiamento das empresas, e de novos projectos empresariais.
Eu passo a explicar. O termo crise, por definição, significa dificuldade de alguma espécie.
Ora, na passada semana, o banco de Portugal vem dar a notícia fantástica, de que afinal não há crise; no crédito. O que há, é menos empréstimos porque estamos em recessão. Será piada? Onde é que está a câmara?. Parece que afinal o crédito ás empresas PÚBLICAS aumentou. O que a bem dizer faz sentido, porque em cima do “excelente” modelo de gestão que é apanágio dessas empresas – que têm mais quadros do que trabalhadores – está subjacente um maior desperdício. Até aqui tudo mal, mas o pior, é tentarem tapar o sol com a peneira, e dizerem que só há menos crédito porque as famílias estão a pedir menos crédito. Então e as empresas que têm dificuldades no recebimento, mas que todos os trimestres têm que “entregar” o IVA ao estado? Como é que pagam os salários? Como é que financiam novos produtos, uma eventual internacionalização?
Será que este vai ser o texto com mais pontos de interrogação que escrevi no blog?

Se não são parvos, andam a treinar 2 vezes ao dia no mínimo!
O Banco de Portugal concorda com a avaliação da troika de que Portugal não está a sofrer uma asfixia de crédito capaz de comprometer a capacidade de relançar o crescimento económico.”

E a que taxa de juro? E com que garantias é que conseguimos financiamento?
Um exemplo prático que aconteceu comigo em Junho deste ano. Fiz um business plan, e no final, entre receitas e despesas, percebi que precisava de me financiar em cerca 60% junto da banca para conseguir por o projecto em marcha.
Fui ao banco. Devo dizer em abono da verdade que foi uma tarde bem divertida, não tivesse sido o resultado final:

Abandonei o projecto.
A razão é simples, foi-me pedido dois fiadores, e a hipoteca da casa, que já agora está avaliada em cerca de 5 vezes o montante que estava a pedir que não era muito. E isto meus caros faz todo o sentido, senão vejamos: além de criar o meu posto de trabalho, iria retirar das filas do fundo de desemprego, mais 3 pessoas que precisava para fazer funcionar a loja, além do valor em impostos gerado pelo valor acrescentado pelo negócio.
Ora, 4 trabalhadores x fundo de desemprego pago pelo estado + impostos = mais do que eu estava a pedir de crédito, E A PAGAR JUROS.
Isto para um projecto que me foi dito estar bem elaborado, com uma análise realista, e num ramo (distribuição alimentar) onde existem perspectivas de sucesso. Imaginem se não fosse!

Qual é o papel dos banco afinal?
Ficar com as casas e os negócios quando as coisas não correm bem?
Não faz sentido estar a barrar a criação de postos de trabalho, porque a pessoa não quer empenhar a casa. O que é que o banco vai fazer com a casa se o negócio correr mal? Leilões?
Para haver crédito tem que haver um projecto, tem que ser avaliado, discutido, acompanhado durante a execução. A própria criação do negócio será a garantia de retorno pela banca.
A única razão objectiva para conceder ou não crédito, é a viabilidade do próprio negócio, caso contrário são Lorpas.
Claro que isso dá muito mais trabalho e é preciso muito mais conhecimento técnico. Mas no fundo, é a melhor forma de garantir que no futuro as empresas, e em particular os jovens empresários, têm acesso a crédito. O risco não é maior! Dá é mais trabalho! Se não for para trabalhar, o que é que os senhores(as) dos banco estão lá a fazer? Exploarar? Extorquir? O quê?
A banca tem que fazer as coisas de forma diferente.

Acho que lhes damos demasiada importância.
Eles vendem um produto: dinheiro. E ainda por cima é indiferenciado, uma nota de 5€ é sempre uma nota de 5€. É assim que temos que os encarar, como um vendedor de produtos, e não como os Deuses do Olimpo que tudo podem, e quando fazem birra, banem alguém sabe-se lá para onde. Eles são como o supermercado, e nós, compramos onde é mais barato, salvo ruptura de stock.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A competitividade das nossas empresas

Hoje 24 de Novembro de 2011, dia de greve geral em Portugal, foi para mim um dia particularmente triste.
Triste
Triste porque uma parte significativa do nosso país parou. Mas mais triste, porque as pessoas que levaram a isso – dirigentes sindicais – são míopes. Míopes na visão que têm para os motivos da greve geral. Diria que são umas autênticas toupeiras. Não vêm nada, e ainda abrem buracos que destroem as raízes do alimento que nos sustenta. Quando nada mais há, resta-nos a esperança. É daí que vem a parte verde da bandeira Portuguesa.
Não há no discurso de nenhum desses senhores, uma só ponta de dignidade. É puro engano, e tentativa de manipulação das massas. Obviamente que todos queremos estado social, mais emprego, melhores ordenados, uma vida digna que não se assegura com um ordenado mínimo dos valores que são pagos em Portugal. Estes objectivos são dignos. O mais que é possível, pois são a base da nossa sobrevivência.
Os discursos derrotistas proferidos hoje, são inúteis na medida em que em nada contribuem para o encontrar de uma solução. E quando isso se verificar, a sensação de frustração aumenta, e a esperança desvanecesse.
O problema está caminho do discurso
Medidas, medidas e mais medidas. Muitas pessoas hoje falam em medidas para aumentar o emprego, de estímulo à economia, medidas que aumentem a competitividade das empresas. É nesta última que quero bater.
Gostava de ouvir da boca de um desses senhores, uma, apenas uma medida de melhoria de produtividade para as empresas.
Uma pequena definição
O factor competitividade é derivado dos custos. Mas não deve ser. Podemos olha-lo dessa forma. É daí que vem aquela ideia idiota que os Portugueses ganham demasiado, e por isso não somos competitivos. Há ainda os impostos, ai sim temos um grave problema. Com as nossas empresas atoladas em carga fiscal, ser empresário em Portugal é uma verdadeira prova de resistência.
Mas há um factor determinante para a competitividade, que essas toupeiras que hoje se congratulam com a adesão à greve, não fazem a mínima ideia que existe – porque caso soubessem da sua existência, falavam disso, e ajudavam a resolver o problema em vez de enterrar ainda mais o país – que faz com que países como Suíça, Holanda, Luxemburgo ou Noruega não precisem de ajuda externa. Curiosamente é um conceito simples na forma, embora admito que difícil no conteúdo.
Valor acrescentado
Se aquilo que produzimos tem um baixo valor percebido pelos clientes, estes estão dispostos a pagar menos pelo que produzimos.
Um dos factores de competitividade mais importantes, é o valor acrescentado à produção.
Até há um imposto com esse nome e tudo: IVA!
A forma como esse valor é acrescentado, depende da empresa. Pelos mercados em que se insere, e pelos produtos que consegue desenvolver, vai conseguir acrescentar mais ou menos valor.
Para conseguirem atingir esse objectivo é necessário uma coisa chamada estratégia.
Neste contexto, para implementar uma estratégia são precisas três coisas.
A primeira é ter uma!
A segunda, é acreditar nos trade-off necessários para inverter o estado de coisas. Quais são as actividades de que estamos dispostos a abdicar, e quais são aquelas que temos que desenvolver, adquirir ou contratar, para que possamos acrescentar valor, e tornarmo-nos mais competitivos.
A terceira, é ter coragem de levar a estratégia em frente pô-la em prática.
Para rematar
Para ser político ou dirigente sindical, basta ter uma boa capacidade oratória de gestão de pessoas e de liderança. Mas isso não é sinónimo nem de visão, nem de conhecimento estratégico, e quando é mal utilizado, pode levar ao abismo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Carta ao chefe de gabinete da secretaria de estado da cultura (cultura está com letra pequena)

Boa noite,
Exmo. Sr. Rui Pereira, nos noticiários de hoje foi com grande surpresa que fiquei a saber da saída do Sr Diogo Infante da direcção  do teatro D.Maria II. Pela entrevista dada pelo mesmo, pude constatar que a iniciativa não fora deste, e ficou a dever-se ao facto de o mesmo ter ameaçado suspender a totalidade do programa cultural no próximo ano caso os cortes previstos pelo seu gabinete, fossem aplicados.

À parte da questão política que francamente não me interessa de todo, a questão da gestão de dinheiros públicos e no caso concreto da gestão dos teatros - pois certamente o D.Maria II, não será o único com dificuldades - interessa-me, porque durante muitos anos paguei muitos impostos para os cofres do estado, e o único retorno foi o pedido de ajuda externa de Portugal. Em termos de gestão, dir-se-ia que foi um muito mau investimento - pagar impostos entenda-se.

Bom, o meu objectivo é simples: agora que tenho mais tempo livre - dado estar numa situação de desemprego - e uma vez que em tempos de crise toda a ajuda é bem vinda, proponho, caso seja do seu interesse, dar o meu contributo de forma GRATUITA, na sua secretaria de estado, no sentido de tentar tornar a situação dos teatros senão sustentável, no mínimo, menos onerosa para os cofres do estado. Como? através de um processo de simples consultoria. GRATUITA.

No meu CV tenho 6 anos de gestão e chefia de equipas. Sou licenciado em gestão e um apaixonado pela estratégia empresarial. Estou actualmente a fazer uma pós-graduação em gestão internacional pelo ISEG. E como já lhe referi, por enquanto tenho algum tempo livre, e muito gosto em colaborar com a sua secretaria de estado, caso entenda ser útil, claro está.

http://tinyurl.com/8xbntj6


sábado, 5 de novembro de 2011

Temos que voltar a ser artesãos

Mas agora com máquinas!
Desde meados do séc. XVIII com inicio da revolução industrial, que os artesão são uma espécie em vias de extinção. Dedicados na sua arte e paciência à execução das mais variadas peças de todo o tipo de coisas que podemos imaginar, poucos são aqueles que sobreviveram, ou que se criaram ao longo dos tempos e que hoje ainda podemos chamar de artesão.
Para mim é necessário criar uma nova espécie desta raça quase extinta. Uma espécie geneticamente modificada, em que são reforçadas as melhores características, mantendo ou melhorando as qualidades que os caracterizam. Continuamos a ser desenrascados, e inteligentes como desde sempre o fomos, a grande diferença, é que hoje temos energia eléctrica, computadores com sistemas CAD, maquinaria da maior diversidade possível.

Estou a pensar em artesãos industriais
É de relativo consenso, que cada vez mais cada individuo faz as suas opções de compra com base nos seus gostos, e cada vez menos nas suas necessidades básicas. Essas já estão satisfeitas.
Ora aqui temos um grande desafio para o mundo industrial em que tudo é feito em grande escala, com o objectivo de fazer o mais barato possível.
Eu detesto ver alguém com uma camisa igual à minha. A caneta que uso, é única na sala. Até o meu carro, tem uma decoração diferente de todos os outros da mesma marca e modelo. Gosto de coisas que são diferentes.
Assim como eu, o mercado está a assumir essa tendência. Hoje temos tecnologia ao nosso dispor como nunca tivemos. Como conseguir criar valor utilizando meios industriais no apoio à diferenciação, pode muito bem ser uma das forma de sair da crise.

E aqui Portugal tem uma grande vantagem
Ser pequeno às vezes tem coisas boas. Sermos poucos não é uma delas. Mas ser diferente é!
Ora vejamos:
  1. se somos pequenos, temos menos clientes.
  2. se temos menos clientes, temos menos trabalhadores
  3. se temos menos trabalhadores, temos uma estrutura de custos mais barata
  4. se somos mais baratos no custo, menos a pensar, mas, pensarmos melhor, tivermos mais imaginação e formos capazes de dar ao nosso cliente o que ele quer
  5. então estamos a acrescentar valor
  6. se acrescentamos valor, os clientes aceitam pagar mais pelo nosso produto
  7. se pagam mais pelo nosso produto, ganhamos mais dinheiro
  8. se ganhamos mais dinheiro, podemos contratar mais pessoas para ter mais produção, para vender mais, para ganhar mais dinheiro
Temos que aceitar as coisas como elas são. Se qualquer um de nós tivesse nascido sem um braço ou uma perna, vai-se queixar disso toda a vida, ou vai lutar, e tentar adaptar o seu dia-a-dia para tentar chegar sempre mais longe?

Dito assim até parece fácil
Mas não é. Para que esta transformação possa acontecer temos que mudar o chip, a nossa maneira de encarar a nossa vida, a sociedade que nos rodeia, a própria forma de fazer negócios.
Há muitas estratégias, mas só há dois pontos em comum a todas elas: a coragem de as criar, e o desafio de as implementar.

Num próximo post vou falar um pouco sobre a (re)definição das curvas de valor do produto. É uma das ajudas para Portugal sair da crise. Outra, pode ser mantermos-nos positivos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Coitados dos banqueiros

Nos últimos meses tem sido notícia as constantes quebras na bolsa, em particular relativamente à banca. Bancos como o BCP, ou o BPI perderam 75% e 50% do seu valor em bolsa desde o inicio do ano. E então? Isto quer dizer exactamente o quê?

Em primeiro lugar o que são acções?
Uma acção é a participação de alguém no capital da empresa. Em teoria, o seu valor é baseado na expectativa de distribuição de lucros dessa empresa aos accionistas. É um direito sobre os futuros lucros da empresa. Ou seja, se existirem 100 acções da empresa http://alaranjaazul.blogspot.com, e eu possuir 1 acção, tenho direito a 1% dos lucros da empresa. Assim se a empresa distribuir 1000€ de dividendos, eu terei direito a 10€.
A questão está no facto de as empresas não distribuírem necessariamente os lucros pelos accionistas. Aquilo que é feito na grande maioria dos casos, é o reinvestimento na expansão da empresa, ou no pagamento da dívida desta.

E os accionistas não estão a ser enganados
Ao expandir-se, ou amortizar a dívida de forma controlada, a empresa está a aumentar a perspectiva de lucros futuros. É por isso que o mercado bolsista na sua forma pura, deve ser visto como um mercado de longo prazo, e não de lucro imediato. Em vez de lhes serem pagos dividendos, os accionistas são recompensados pelo diferencial do valor da acção.

O problema está no risco
Este é que é o ponto. É previsível que as empresas apresentem lucros todos os anos. O que não é previsível é quanto. Se este ano http://alaranjaazul.blogspot.com pode dar um lucro de 1 000 000€, para o ano pode muito bem ir à falência. Logo, os accionistas têm que avaliar a sua rentabilidade das formas que lhes é possível. A incerteza ligada aos lucros futuros da empresa, e o risco associado, é que em conjunto vão fazer o valor da acção. No caso dos bancos a exposição à dívida externa de outros países, nomeadamente a Grega, faz com que o risco de investimento nessas acções seja de tal forma elevado, que o seu valor já caiu em alguns casos 75%.

Isto é a teoria
Porque na prática, os investidores estão mais interessados em especular sobre as tendências de subidas e descidas de valores bolsistas, com vista à obtenção de dinheiro rápido, do que se preocupam com regras de mercado. Um mau relatório de resultados trimestrais de uma qualquer entidade, não é analisado nem estudado, ou é positivo ou é negativo, a reacção bolsista ou é positiva ou é negativa, nunca se sabe em quanto.
No fundo, acabam por ter um comportamento irracional. É apenas especulativo, a pensar no seu próprio lucro no curto prazo.

Sem stress
A parte boa, é que as pessoas que trabalham, são pagas com base, não em resultados bolsistas, mas em resultados operacionais. E, felizmente para todos nós, em especial para todos os trabalham diariamente num banco, ou cuja actividade depende indirectamente destes, eles continuam de portas abertas e a facturar.
Os bancos não foram à falência. Continuam a gerar dinheiro, e a pagar salários e as facturas aos fornecedores. O reflexo da actividade bolsista não é o reflexo da actividade operacional da empresa. Desde que a operação continue a funcionar bem, e apresentar resultados, tudo o resto é possível de ser resolvido.
A esta altura, quem está mal, com mais cabelos brancos e alguns ataques cardíacos, são os “operadores” que estão na bolsa. Felizmente, ainda não são os trabalhadores.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Afinal somos bons!

Portugal é deficitário em quê? Só se for em políticos!
Em condições normais gosto de manter um espírito positivo, mas bolas, às vezes exageram.
Muito se tem falado da crise, e das exportações que são o “el dorado” da salvação nacional. Que temos que comprar menos ao estrangeiro para poder gerar mais riqueza etc.
Ok. Até ai tudo bem. Não é difícil ao comum dos mortais, entender que temos que gastar menos do que ganhamos, correcto?
Agora há uma coisa que me deixa completamente de rastos, que é, quando fazemos alguma coisa de bem, e de repente estragamos tudo. Livra!!!
Recentemente fiz uma pesquisa pela base de dados da Eurostat, e seleccionei os indicadores de exportações com carácter tecnológico. Veja-se o gráfico a baixo.






Será que estou a ver bem?
Durante a primeira década do século XXI, Portugal foi um dos países com maior superavit na exportação de tecnologia em toda a Europa. Ou pelo menos até 2009, ano em que a crise foi mais notada. Mas isso foi a nível mundial, não havia muito a fazer.
A nossa balança comercial modificou-se! Nós já não somos um país de mão de obra barata e desqualificada. Nas duas últimas décadas, os serviços e os sectores com mais incorporação de tecnologia aumentaram a sua participação de forma significativa na nossa balança comercial.

A questão não é a quantidade
É a qualidade. Se conseguimos fazer bem tecnologia de ponta, eu arrisco-me a dizer que podemos fazer quase tudo! Senão vejamos:
Tínhamos uma boa industria conserveira – abandonámos tudo – mas fazíamos bem (abraço especial ao nosso presidente Cavaco).
Tínhamos uma das melhores industrias de aço na Europa – abandonámos tudo – mas fazíamos bem
Compramos quase tanto azeite a Espanha como o que exportamos – mas fazemos bem.
E por aqui me fico que a ideia deste post é ser positivo, mas confesso que isto de escrever tantas vezes a palavra tínhamos causa-me uma certa irritação.

Intelectualmente não devemos nada a ninguém
Ok, faço só uma pequena ressalva ali na rua de S.Bento, que parece não ter melhoras.
Mas o país não é só Lisboa, e ainda bem.
Ainda bem porque a nossa capacidade de inventar, e de produzir, vem de nós como um povo. Se há 500 anos fomos capazes de fazes uns barcos e descobrir meio mundo, hoje, tenho a certeza que vamos conseguir dar a volta e criar novamente algo completamente novo, que nos faça sentir realizados, e bem com nós próprios.

Só nos falta uma ou duas reformazitas no estado, e um bocadinho menos de impostos. De resto, estamos quase lá.

Os sectores considerados pelo Eurostat para o gráfico acima são os seguintes:
Aerospace, Computers-office machines, Electronics-telecommunications, Pharmacy, Scientific instruments, Electrical machinery, Chemistry, Non-electrical machinery, Armament. The total exports for the EU do not include the intra-EU trade. There is a break in the series 2006/2007 due to the revised product classification (SITC). However, the grouped large product categories titles remained the same.